A noite cai depois de mais um dia de Outono, lembrando assim que um novo mês acaba de chegar. Este recém-chegado vai trazendo aos poucos algumas mudanças... o ciclo de vida passado encerrou, dando espaço ao nascimento de uma nova etapa de vida. Acho que vou encetar uma "limpeza" geral à minha vida e a aspectos que ficaram pendentes. Sinto, de forma cada vez mais intensa, o acelerar do processo de mudança. Acho que é a maturidade a apoderar-se de mim, que vai aniquilando, a pouco e pouco, alguns medos, inseguranças e incertezas. Vejo as coisas de forma mais clara e concisa. Sinto que não sou mais uma criança e que preciso do meu espaço e de ser eu própria, independentemente dos outros. Os meus gostos estão a mudar, mas os meus sentimentos mantêm-se fortes com a certeza de que são genuínos. Os outros dissipam-se ao longo dos tempos. Sinto que, neste momento, sou acarinhada por muitas pessoas, deixando-me com a certeza que saí do casulo onde andei escondida do mundo. Espero que a borboleta seja forte e capaz de explorar aquilo que deseja. Não gosto de gente, já o meu querido professor o dizia, mas sou apaixonada por pessoas. As pessoas são complexas, diferentes, interessantes, previsíveis e imprevisíveis, moldáveis e dotadas de muitas faculdades, algumas até impensáveis. Gosto de observar os jeitos, movimentos, olhares, nuances e subtilezas de cada ser. Partilho, com toda a intensidade, aquilo que sinto com aqueles por quem nutro uma coisa essencial à vida: a confiança. Sigo os meus valores e crenças que considero ser a minha filosofia de vida, não havendo nada que me faça contrariar ou mesmo subverte-los. Erro, sim erro muitas vezes, sou imperfeita como qualquer pessoa, desde o homem rico multi-milionário até ao simples varredor de uma ruela da Ericeira. Falho quando sinto que não dei o suficiente de mim própria ou quando sigo um caminho que me corta a capacidade de ir mais além. Falho sem querer, mas também erro por teimosia que ultrapassa as normas da persistência. Falho cegamente quando me deixo iludir por quem não merece, porém, talvez isso não seja falhar, mas sim seja uma forma de, apesar de tudo, acreditar que cada um de nós tem um fundo de verdade. Preciso ainda de me convencer que nem tudo é feito com a melhor das atenções, se calhar eu até sei mas prefiro acreditar e alimentar alguns sonhos que me dão asas para voar. Tenho a mania que quero tudo e quero mesmo, não me envergonho de admitir que tenho sonhos ambiciosos. Para mim é um orgulho ter a capacidade de sonhar e idealizar um futuro melhor para mim e para quem me rodeia. Porém tenho a consciência que nem tudo se resume ao sonho. O sonho é apenas uma alavanca para toda a acção que se desenrola, é uma espécie de incentivo adicional, mas muito poderoso, que me faz colocar as tropas a funcionar e lutar, com muita persistência, esforço e dedicação, por aquilo que quero. É também preciso ter em consideração que, para ter aquilo que se quer, é necessário estabelecer prioridades e saber abdicar de algumas coisas, de modo a que o foco atencional se mantenha naquilo que realmente importa. Todavia nem tudo é assim tão linear, dado que as derrotas também são uma vertente da vida e devo dizer que lido muito mal com elas. Fico frustrada quando não consigo aquilo pela qual dei no duro. Fico frustrada quando não consigo aquilo que idealizei para mim, embora tenha a noção que, por vezes, sonhe demais. Contudo estas frustrações não me fazem parar... sofro é verdade e, às vezes, não é pouco, mas servem para redireccionar os meus objectivos, perspectivar novas alternativas e pisar novos trilhos, porque eu acredito que tudo tem um propósito (por vezes desconhecido) e se não consegui algo tenho de aprender com isso e reconfigurar outros horizontes. Amar é o verbo principal da minha vida, juntamente com acreditar, sonhar, lutar e viver. Sou esta imensidão de complexidade e acreditem... isto é só um mero pedaço da multiplicidade de partes que compõem o meu ser idiossincrático.
(PF, 2011)