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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Excertos de mim:


"depois de voltas e reviravoltas a senhora continua a chegar ao mesmo ponto, ao mesmo lado do novelo que ela puxa infinitamente na ânsia de encontrar alguma nuance de esperança, um resto de tudo, um resto de nada...Mas o final será sempre sempre o mesmo, restando apenas o nó amargo na boca, o sentido de incompetência e o aroma do medo que petrifica qualquer réstia de mudança... ela está anestesiada pela impotência que a amarra ao passado, não a permitindo seguir a luz do futuro que, apesar de a cativar, não é suficiente para a arrastar na maré do incerto. E pouco a pouco a sua carapaça torna-se cada vez mais dura e impenetrável, a expressão facial torna-se baça e sem cor e nos olhos apenas se vê réstias de lágrimas mal choradas e mal vividas. Ela vive mas a sua alma morreu na sede de esperança... Mas vai ressuscitar, vai pois..."

PF, 2011

Excertos de mim:


"Acordaste e abriste a janela... Ficaste a contemplar os primeiros raios de sol, enquanto tomavas o teu café acabado de ser entregue pela empregada de cabelos louros. Sorriste... Pegaste no telefone timidamente e sem saber muito bem o que fazer, decidiste finalmente ligar para ela. Em cada segundo que a Lénia não atendia, o nervosismo de Carlos aumentava, o coração palpitava de forma tão acelerada e cardíaca. Até que ele ouve a voz doce e rouca, mas tão sensual, de Lénia, mas as forças faltam e escasseiam, a voz não saiu, ficou presa num suspiro amarrada pelo aperto do coração e pela paixão que bloqueia qualquer acto racional. Desligou... Ele, ainda meio desorientado, vestiu a roupa que tinha à mão e saiu desvairado, apenas com aquele pensamento "ela não pode casar sem antes saber o que a amo". O caminho escolhido foi a igreja Matriz do Seixal, pagou o táxi e saiu mas o coração parecia ter vida própria pois conduzia aquele jovem, desorientado e incapaz de fazer o que é que fosse de forma consciente... Carlos estava mesmo embebido em toda a magia daquele momento, aproximou-se de forma apressada da porta da Igreja... Lénia saiu do carro do seu pai, linda, deslumbrante, iluminada com um vestido longo, sensual, de cor pérola com apontamentos brilhantes mas não tão esplêndidos como os seus olhos cintilantes... Carlos aproximou-se devagar no meio daquela multidão, o seu coração estava a rasgar por dentro mas a sua coragem estava a desvanecer-se em cada passo que dava... Quando chegou o momento da verdade, Lénia recebeu em seus braços, Pedro, que saiu da igreja para receber a sua mulher, mulher que sempre foi cobiçada pelo seu melhor amigo... O abraço foi tão intenso, rodeado por uma aura multicolor que Carlos petrificou, ficando impávido e e sereno a ver aquele cenário de eloquência, misturando por um lado a felicidade de ver nos olhos da sua amada uma felicidade imensa, mas por outro o gosto amargo da derrota e da dor da perda de algo que foi sendo fomentado e fantasiado durante longos anos... Baixou a cabeça e desapareceu no meu das gentes que admiravam a história de amor de Lénia & Pedro"

PF, 2011